domingo, 9 de novembro de 2008


Tudo por uma vaga

Mariana Flores Da Equipe do Correio
Responsável por movimentar cerca de R$ 5 bilhões por ano, a indústria dos concursos públicos ganha cada vez mais adeptos. No volume entra desde a arrecadação das bancas examinadoras até os gastos dos estudantes com livros e apostilas, de acordo com cálculo feito pela Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac). Os cursinhos preparatórios, com mensalidades médias de R$ 350, têm boa participação na quantia faturada. Mas as opções estão aumentando. De olho em um mercado que atende a 8 milhões de pessoas em todo o país, empresários inovam para tentar abocanhar parte da fatia movimentada pelos concurseiros. No Distrito Federal, onde, estima-se, existem pelo menos 200 mil pessoas estudando para concursos, o leque vai de técnicas de memorização e caligrafia a ioga para os olhos.
Dezenas de brasilienses, a maioria concurseiros, aprenderam ontem a fazer ginástica cerebral e ioga para os olhos. A técnica foi ensinada pelo professor paulista Carlos Maurício Prado, que duas vezes por ano vem ao Distrito Federal ministrar o curso. A maioria dos alunos, conta, quer evitar ter os temidos “brancos” na hora da prova. “Uma massagem específica que aumenta o fluxo de sangue traz a energia para a parte superior do cérebro e evita dar branco na hora da prova. Em Brasília essa é a técnica mais requisitada, em função da demanda elevada por concursos públicos. Em cada capital os alunos têm uma expectativa diferente, em Brasília a procura é maior por pessoas que vão fazer concursos”, conta. Cada aluno pagou R$ 20 de taxa de inscrição e R$ 30 pela aquisição do livro que detalha as técnicas.
Para ajudar a evitar o esquecimento, uma outra forma explorada é a de memorização. O número de alunos interessados em aprender as técnicas só cresce, segundo o professor da ciência da mnemotécnica, Expedito Rocha de Oliveira. Nos últimos 18 anos 8 mil pessoas já passaram por suas aulas. Mais da metade focadas nos concursos. O custo é de R$ 160 por quatro aulas, que ensinam a guardar os principais tópicos da Constituição Federal, das leis 8.112 e 8.666 e da gramática. “É mais difícil memorizar as leis do que o dicionário”, afirma o professor, famoso na cidade por ter decorado o dicionário Aurélio.
Com a concorrência acirrada nas seleções, os candidatos a uma vaga no serviço público têm que estar cada vez mais preparados. Na redação, por exemplo, além da preocupação com a qualidade das informações e do texto, e com a ortografia, devem ficar atentos para a grafia das palavras. De olho no potencial mercado, o empresário Evandro Ayres resolveu investir em um curso de caligrafia e inaugurou o Curso de Caligrafia ABZ. Todo mês o volume de alunos varia de 50 a 100 pessoas, dependendo da quantidade de concursos com editais abertos. Para aprender a escrever esteticamente melhor, eles pagam R$ 300 pelo curso, que tem duração de seis aulas de três horas.

Publicado às 16:22
George Cabral

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